Hora do Brasil
Através destes documentos será possível remontar parte da história do mais antigo programa de rádio do Brasil e da América do Sul.
O módulo Hora do Brasil remonta a história do programa de rádio mais antigo do Brasil, através de áudio, vídeo e documentos sobre o programa. Criado pelo governo federal em 1938, pelo Departamento Nacional de Propaganda, o DNP (que se transformaria em DIP em 1939), o programa tinha por objetivo difundir os projetos e propostas do governo através de um noticiário que exaltava a figura do presidente Vargas. Em 1965, a Hora do Brasil teve seu nome alterado para Voz do Brasil, sendo o programa de rádio mais antigo da história do Brasil e da América do Sul.
Televisão, internet, sites de pesquisas online, celulares que entram na internet em qualquer lugar e a todo instante, vivemos em um mundo em que a comunicação entre as pessoas é cada vez mais rápida e constante, mas tudo isso que hoje parece comum a nós, nem sempre foi assim. Se hoje existe o que alguns podem chamar de excesso de informação, em que cada vez mais notícias circulam mais rápido entre as pessoas, no início do século XX as informações não circulavam com tamanha facilidade pela sociedade. Entre 1930 e 1945, Getúlio Vargas foi presidente do Brasil. Neste período, que compreende o primeiro momento de Vargas na presidência do país, as informações não circulavam entre os cidadãos com grande facilidade; havendo dois meios de comunicação de massa: os jornais e o rádio. Sim! Sem essa de internet!
Leia na íntegraTelevisão, internet, sites de pesquisas online, celulares que entram na internet em qualquer lugar e a todo instante, vivemos em um mundo em que a comunicação entre as pessoas é cada vez mais rápida e constante, mas tudo isso que hoje parece comum a nós, nem sempre foi assim. Se hoje existe o que alguns podem chamar de excesso de informação, em que cada vez mais notícias circulam mais rápido entre as pessoas, no início do século XX as informações não circulavam com tamanha facilidade pela sociedade. Entre 1930 e 1945, Getúlio Vargas foi presidente do Brasil. Neste período, que compreende o primeiro momento de Vargas na presidência do país, as informações não circulavam entre os cidadãos com grande facilidade; havendo dois meios de comunicação de massa: os jornais e o rádio. Sim! Sem essa de internet!
Além disso, naquela época, grande parte da população brasileira não sabia ler e escrever e informar-se pelo jornal era privilégio dos poucos que eram alfabetizados. Por isso, o rádio tinha uma importância muito grande, por ser uma forma de entretenimento e de circulação de informações. Ao mesmo tempo, para se manter na presidência do Brasil por tantos anos (foram 15 anos consecutivos), Vargas e seus apoiadores julgaram a necessidade de criar um departamento que controlasse as informações, notícias e os produtos culturais (como músicas, filmes e livros), e, caso as letras das músicas ou os conteúdos das notícias fossem críticos ao governo de Vargas, eles eram censurados. Assim, as notícias e expressões culturais que eram contrárias ao governo, eram censuradas e não podiam ser publicadas. Neste sentido, ocorreu o que pode chamar de um monopólio da informação e das narrativas sobre o Brasil, por parte do poder Executivo. Mas o que isso significa? Que, no primeiro governo de Vargas, ele como chefe do poder Executivo tinha o controle sobre quais as notícias e produtos culturais que seriam lidos, ouvidos e assistidos pela população brasileira. O que foi feito através da criação do departamento de controle da propaganda no país, que mudou de nome muitas vezes e é mais conhecido como Departamento de Imprensa e Propaganda( DIP).
Sendo o rádio extremamente importante para o país e com o controle feito acerca das informações, em 1938, o governo de Getúlio Vargas, através do Departamento Nacional de Propaganda (DNP, que no ano seguinte passou a ser conhecido como DIP), criou um programa de rádio chamado Hora do Brasil, transmitido todos os dias, por todas as emissoras de rádio do país e com duração de uma hora. Este programa tinha três objetivos principais: 1) transmissão de músicas brasileiras que fossem compreendidas como sendo de “bom gosto”; 2) incentivar o civismo, buscando construir o amor e o respeito pela história brasileira, com um viés militar; e, 3) informar a população sobre os projetos e atividades do Estado brasileiro na figura do presidente Getúlio Vargas. Então, em um período histórico em que o controle da informação se concentrava no governo, quando seus críticos eram censurados e presos, o governo de Vargas criou um programa de rádio obrigatoriamente transmitido em todo o Brasil em que seu governo era apoiado e elogiado, jamais criticado.
Após o golpe militar de 1964, no ano de 1965, o programa Hora do Brasil teve seu nome alterado para Voz do Brasil; sendo o programa mais antigo da história do Brasil e da América do Sul. Ele é transmitido até hoje diariamente em todo território nacional. Contudo, as notícias informadas pelo programa não são apenas relativas ao poder Executivo, mas também ao Legislativo e ao Judiciário. De fato, ocorreram mudanças no país e, consequentemente, no formato do programa, que é parte da cultura brasileira, especialmente, pela inconfundível música-tema do programa, a ópera II Guarany, de autoria de Carlos Gomes (1836-1896), que faz parte do imaginário de muitas gerações de brasileiros.
O programa Hora do Brasil não foi transmitido apenas em território brasileiro, tendo sido transmitido inclusive na Argentina e no Uruguai, no arquivo da FGV/CPDOC você encontra correspondências encontradas no arquivo de Oswaldo Aranha que falam um pouco sobre estas transmissões do programa no exterior.
Alexandre Marcondes Filho foi ministro do trabalho no período do Estado Novo e, ao lado de Getúlio Vargas, foi responsável pela criação e implementação da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), em maio de 1943. Enquanto esteve à frente do ministério do trabalho, Marcondes Filho fez palestras semanais na Hora do Brasil, com temas diversos destinados aos trabalhadores brasileiros. Suas palestras iam ao ar às quintas-feiras, tendo sido transmitidas cerca de 200 delas, que tinham duração de cerca de dez minutos. E, nas sextas-feiras, suas palestras eram publicadas pelo jornal A Manhã, que era apoiador do governo Vargas.
Civismo é o ato de zelar pelos valores, ideais e história de uma sociedade. Sendo uma prática muito relacionada aos ensinamentos e valores militares. Nos governos de Getúlio Vargas o civismo da população brasileira era um assunto tratado com grande importância. Deste modo, por exemplo, Getúlio Vargas e Gustavo Capanema (à época ministro da educação e saúde) através do Decreto-lei nº 2.072, de 8 de março de 1940, estabeleceram a obrigatoriedade de que em todas as escolas as crianças e jovens tivessem aulas de Educação Cívica, Moral e Física. Já no caso do programa Hora do Brasil, o civismo era um de seus objetivos e, através de sua programação, deveria apresentar músicas, peças de rádio, teatro, discursos, entre outros, que incentivassem o civismo no Brasil.
Por se tratar de um tema que busca a valorização de certos aspectos históricos de um país, datas como a comemoração da independência do Brasil eram muito comemoradas no governo de Getúlio Vargas, especialmente, durante o Estado Novo. Para termos alguma ideia de como o civismo era importante e incentivado neste período, vale rememorarmos as comemorações que eram organizadas no estádio do time Vasco da Gama, no bairro de São Cristóvão, Rio de Janeiro. Nestes eventos, compareciam alunos das escolas públicas e as autoridades do governo Vargas, incluindo o próprio, que proferia discursos. Uma programação intensa e que era transmitida pela Hora do Brasil.